Primavera (1872), Claude Monet |
A perfumarada álacre dos jasmins, das rosas, dos alecrins, espiralavam-se pelos espaços vagos e livres entre os bancos, entre os canteiros, entre as roseiras e as árvores despontas na vastidão profunda e verde da grama.
Ouvia-se uma patuscada alegre de sinos, de aves, de meninos que entoavam a vivacidade pueril da idade e corriam por todos os lados.
Pairava naquela brisa o sabor primaveril das coisas.
Sobre a grama, sob a sombra fresca de um carvalho num dia cálido de primavera, sentava-se elegantemente aquela moça.
Trazia o porte das filhas dos reis.
Sentada na grama, lia Bunyan: a Peregrina.
Pertencia a outro país, certamente.
Via-se nela como que uma aura etérea e alva dos anjos de Deus.
Era docemente boa aquela donzela, de uma beleza inteligente, de uma inteligência modestamente bela.
Depressa e cuidadosamente fechou o livro e levantou-se quando viu cair um garotinho levado:
— Não chore, menino — consolava ela o traquino —. Bom é machucar os joelhos, pois a dor é o custeio da sabedoria —. E com um beijo doce ergueu o pequeno.
E quando nossos olhos cruzaram-se, por um infinitésimo eterno de tempo senti-me como que no impressionismo de Monet.
Meu coração parou e recomeçou, batendo e vivendo por ela.
- quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
- 0 Comentários