Peregrina

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Primavera (1872), Claude Monet

A perfumarada álacre dos jasmins, das rosas, dos alecrins, espiralavam-se pelos espaços vagos e livres entre os bancos, entre os canteiros, entre as roseiras e as árvores despontas na vastidão profunda e verde da grama.

Ouvia-se uma patuscada alegre de sinos, de aves, de meninos que entoavam a vivacidade pueril da idade e corriam por todos os lados.

Pairava naquela brisa o sabor primaveril das coisas.

Sobre a grama, sob a sombra fresca de um carvalho num dia cálido de primavera, sentava-se elegantemente aquela moça.

Trazia o porte das filhas dos reis.

Sentada na grama, lia Bunyan: a Peregrina.

Pertencia a outro país, certamente.

Via-se nela como que uma aura etérea e alva dos anjos de Deus.

Era docemente boa aquela donzela, de uma beleza inteligente, de uma inteligência modestamente bela.

Depressa e cuidadosamente fechou o livro e levantou-se quando viu cair um garotinho levado:

— Não chore, menino — consolava ela o traquino —. Bom é machucar os joelhos, pois a dor é o custeio da sabedoria —. E com um beijo doce ergueu o pequeno.

E quando nossos olhos cruzaram-se, por um infinitésimo eterno de tempo senti-me como que no impressionismo de Monet.

Meu coração parou e recomeçou, batendo e vivendo por ela.

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Escrever é, antes de tudo, o abstracionismo dos pensamentos, das alegrias, dos lamentos e todos os sentimentos que transpassam a alma humana. É o transbordar filosófico e poético dos mares do pensamento.

Debruce os sentimentos de sua alma sobre este espaço, caro leitor.

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