- domingo, 20 de junho de 2021
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Case-se quando amar
Ame quando decidir ficar
Fique quando os defeitos perdoar
Perdoe para Deus também te desculpar
Amar é isso:
resolver ficar
E estar disposto à se doar
- sábado, 19 de junho de 2021
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Reading to the Convalescent (1827), Jean-Augustin Franquelin (detalhe) |
Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer, disse-o Camões.
O amor é bem isso e, sobre tudo, aquela dor, ainda mais que se vai adoentando o amor sem que nada haja que se possa fazer.
***
Era uma noite fria.
Invadia a alcova a sombra crepuscular de um mórbido dia que atenuava-se à luz bruxulenta da vela que a adorável mãe de minha amada acendera, quando entrei.
Havia pelos espaços patológicos da casa como que uma melancolia esperançosa que perpassava os aposentados e pairava sobre o rosto de minha amada.
Minha doce Maria! Alva como a branca lã, como a calma do dia. A calmaria de seus olhos faziam-me esquecer de seu estado.
Era anemia, disse o médico.
Dava-lhe ferro, sua mãe. E eu, Camões.
Todas as noites sentava-me ao seu lado segurando sua mão e ela, toda abatida, toda exaurida, recostava a cabeça em meu ombro, enquanto eu lia.
Eu segurava sua mão, enquanto lia; ela, quieta, quieta, ouvia e abraçava-me a mão segura, num gesto salutar de transferência vital.
Pela luz que me alumia! Daria por ela, inteira, minha vida! Cederia toda a vitalidade de meu corpo àquela que meu coração com um roubo já conquistou.
***
Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las, disse-o também Camões.
Não, não.
Contudo, se estão os teus olhos num mero materialismo palpável, não há o que se possa fazer; tudo resume-se à matéria e à casualidade cética das coisas.
Eu, porém, prefiro apegar-me à esperança transcendente da salutariedade dos milagres, dos prodígios, dos inexplicáveis eventos metafísicos que de tempos em tempos ocorrem.
Minha Maria, eu lia para ela Camões naquela noite fria; eu sentia por ela uma enorme dor.
Eu havia pedido ao bom Jesus que a restaurasse, e a prece angustiante transpassou os céus de bronze, e adentrou os portões etéreos, e a providência divina, por graça, não falhou.
Seu rosto corou e coroou de alegria meu coração.
Minha doce Maria! Pela luz que me alumia, agora podemos nos casar.
- segunda-feira, 7 de junho de 2021
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Salar de Uyuni (2019), Jheison Huerta - Reprodução BBC |
O telhado de casa é bonito. Estrelado, estrelado.
É brilhante de mais, o telhado.
Uns aglomerados estelares, uns sóis distantes, muito distantes, minúsculos, minúsculos, brilhantes. Umas estrelas reluzentes, no telhado.
Um caminho de luzes na escuridão noturna sob o qual me deito e contemplo sua imensidão cósmica.
Asteroides, cometas, meteoros cruzando o céu noturno aqui e ali, como riscos, como traços de um pintor.
E quando eu vencer todas as implicações físicas da ciência humana numa metafísica matematicamente perfeita, perfeitamente conhecida daquele artista, navegarei pelas águas tranquilas daquele rio leitoso, conhecerei os mistérios quânticos e etéreos do cosmos, além da amplidão terrenal.
Conhecerei, como dele sou conhecido, o artesão que construiu meu telhado bonito, bonito.
- domingo, 6 de junho de 2021
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Reprodução |
Queimada mata a mata
E quem mata a mata
Mata quem ama:
Polui o ar que se respira,
Escurece a luz do dia.
Aquece o mundo
A porcaria da queimada
Que mata a mata
E mata quem, a mata, queima.
Mata quem nisso teima.
- sábado, 5 de junho de 2021
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Saudade (1899), Almeida Júnior (detalhe) |
A saudade é a dor de amar a quem não se pode abraçar.
São as lágrima que correm dos olhos, olhos que se encontram na constelação de Orion, nos espaços sidéreos da escuridão noturna da ausência.
É o beijo dos lábios desencontrados pelas circunstâncias da vida.
- sexta-feira, 4 de junho de 2021
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