Man Writing a Letter (1664–66), Gabriel Metsu

Minha querida,

Provavelmente ainda não nos conhecemos, mas em relação a isso, o meu coração está tranquilo, pois, por mais difícil que seja acreditar naquilo que não se vê, eu trago em meu peito a certeza de que em algum lugar da terra você existe e que brevemente nos encontraremos.

Talvez, quando esse dia chegar, nos toparemos na estação do trem em um dia frio de outono ou na manhã ensolarada de um domingo de verão, depois de um sermão sobre a humildade cristã. Quem sabe, talvez, eu te veja sentada numa praça florida com Lewis, conhecendo a simplicidade da fé, ou com peregrinando em busca da Cidade Celestial em companhia de Bunyan.

Não sei ao certo como nem onde será o lugar e o tempo em que nos encontraremos. Sei apenas que desse dia em diante viveremos em uma contínua primavera. E ainda que o amarelo outonal sobrepuje o verdacho primaveril de nossos dias, ou as nuvens tempestuosas trovejem em nosso céu azul, o brilho veranil da resplandecente Estrela da Manhã jamais cessará de iluminar o nosso caminho.

Até lá, vou pedindo ao Senhor que me faça alguém disposto a não só morrer por você, mas também a lavar a louça do jantar e a ficar com as crianças; alguém mais piedoso, que ame a Deus mais que a você para que eu possa te amar mais que a mim mesmo; alguém mais humilde, que seja um bom ouvinte e escute o que você tenha a dizer; alguém mais maduro, que tenha sabedoria para tomar as decisões corretas, sem, contudo, perder a graciosidade no viver.

Tudo isso peço a Deus antes de te conhecer, pois a uma mulher sábia e piedosa como você, cujo coração está completamente escondido em Deus, Ele não dará um homem que não a leve ainda mais para junto dEle.

Com estas palavras, minha querida, encerro esta carta, confiando que, de alguma forma, ela chegará até você.