Resenha: Graça Abundante ao Principal dos Pecadores

quinta-feira, 27 de outubro de 2016


A MISERABILIDADE DO HOMEM E A GRAÇA DE DEUS

Bunyan, J. (2012). Graça Abundante ao Principal dos Pecadores. (L. M. Lopez, Trad.) São José dos Campos, SP: Fiel.

John Bunyan (1628-1688) foi um pregador puritano batista de origem humilde, nascido na cidade de Elstow, Inglaterra. Após uma conversão dramática, Bunyan dedicou-se a pregar o evangelho de nosso Senhor e por não ser um ministro ordenado pela igreja da Inglaterra, ele foi, por varias vezes, lançado no cárcere, somando-se um total de 12 anos de aprisionamento por amor do evangelho. Graça Abundante ao Principal dos Pecadores é a sua autobiografia, onde ele relata exatamente o drama que foi a sua conversão ao evangelho de nosso Senhor.

O livro inicia-se com uma introdução sobre a vida de Bunyan escrita por Michael Haykin, onde ele relata detalhes sobre a vida do autor que o próprio Bunyan não relata no decorrer do livro como por exemplo o relato de um apelo, durante o seu aprisionamento, de sua segunda esposa, Elizabeth Bunyan, no tribunal.

Bunyan começa sua autobiografia relatando os seus primeiros anos no mundo que foram de muita incredulidade e rebeldia contra Deus, apesar do seu incessável medo do inferno, o que nos relembra o que o Apóstolo Paulo escreveu sobre a lei de Deus escrita no coração do homem para o condenar ou para o absorver diante de Deus (cf. Romanos 2:14-16).

Quanto à minha vida de incrédulo, sem Deus no mundo, eu vivia realmente “segundo o curso deste mundo" e sujeito as influências do “espírito que agora atua nos filhos da desobediência" (Ef 2.2). Sendo totalmente injusto, estava feliz por ser cativo do diabo, para cumprir a sua vontade (2 Tm 2.26). Essa sujeição dominava de tal modo o meu coração e exercia tal controle sobre minha vida, que, embora fosse tão jovem, poucos se igualavam a mim em amaldiçoar, praguejar, falar palavrões, mentir e blasfemar o santo nome de Deus. De fato, cresci tão acostumado a essas coisas, que elas se tornaram naturais para mim. Para minha vergonha, percebi que isso ofendia tanto a Deus, que mesmo em minha infância ele me assustava e apavorava com sonhos terríveis e me aterrorizava com visões horrendas. Muitas vezes, enquanto dormia, depois de passar o dia em pecado, como passava tantos outros, eu ficava intensamente perturbado com pensamentos sobre demônios e espíritos maus, que trabalhavam a fim de ganhar-me para eles, conforme eu pensava - uma ideia da qual não podia me libertar. - Página 19

Em seguida ele relata o seu despertar pela religião, que começou logo após o seu primeiro casamento, com a leitura de dois livros que sua esposa recebera como herança de seu pai, mas satanás começou a lançar dardos inflamáveis na mente de Bunyan que o fez questionar sua salvação, a existência de Deus e a veracidade da sua palavra - As tentações de blasfêmia contra Deus, Cristo e sua palavra, eram tantas que Bunyan chegou a pensar que estava possesso pelo diabo.

Até então, eu não estava totalmente persuadido de que tinha fé em Cristo. E, em vez de encontrar neste fato qualquer tipo de paz, comecei a ter a alma afligida por novas dúvidas quanto à minha felicidade vindoura e, especialmente, quanto a ser ou não um eleito. - Página 44

Os pensamentos profanos eram tais que suscitavam em mim perguntas a respeito do ser de Deus e de seu único Filho, isto é, se havia realmente um Deus ou um Cristo e se as Escrituras Sagradas não passavam de uma fábula, uma história astuciosa, em vez de ser a pura e santa Palavra de Deus. - Página 59

Todos os crentes estão sujeitos, assim como Bunyan, a serem tentados a duvidar da sua própria salvação, da existência de Deus, da autossuficiência do sangue de Cristo para nos salvar ou da veracidade das Escrituras, porém cabe a cada um permanecer firme como vendo o invisível (Hebreus 11:27), pois para toda tentação Deus nos dá também o escape (1 Coríntios 10:13). Também precisamos ter em mente que uma pessoa possessa não tem consciência do seu estado, pois em lugar algum das escrituras vemos um endemoniado clamando para Jesus o libertar. Vemos outras pessoas clamando por aqueles que estão possessos, como por exemplo a mulher cananéia clamando por sua filha (Mt 15:22), mas não os próprios endemoniados.

Durante muito tempo Bunyan permaneceu como uma onda levada de um lado para outro pelo vento, entre tentações e consolos, até que um comentário de Galátas, escrito por Martinho Lutero, chegou às suas mãos. Foi então que Bunyan teve certeza do seu amor por Jesus Cristo e foi fortemente consolado por Deus, mas não demorou muito até que satanás o tentasse novamente para que ele colocasse coisas triviais acima de Cristo, tentação essa, que foi a mais severa de todas, com a qual ele pensou que o seu coração havia consentido. A partir daí começa a maior aflição de Bunyan, que durou longos anos, variando, desta vez, entre a culpa pelo pecado e o consolo de Deus, durando este menos tempo que àquela. Até a palavra de Deus parecia estar contra Bunyan para o condenar, sendo o texto de Hebreus 12:16-17, que fala sobre a rejeição por Esaú de sua primogenitura, como um grilhão para Bunyan, até que um dia ele foi consolado por Deus quando a frase: "sua justiça está no céu" bradou subitamente em seu coração, o que para ele foi confirmado no texto de 1 Coríntios 1:30. Uma consciência sensível à culpa do pecado é muito valiosa para que o crente esteja sempre humilhado nós pés de Jesus, assim como aquele publicano (Lc 18:13) porém precisamos acreditar que Deus nos perdoará, desde que não nos esquivemos de forma deliberada, o que, sem dúvida alguma, não faremos, haja vista o nosso medo de fazê-lo, da justificação que há em Cristo Jesus mediante nossa fé nEle (Ef. 2:8).

Agora eu era como um homem encarcerado; eu me sentia como se tivesse sido trancado até que viesse o julgamento. Pelos dois anos seguintes, nada, exceto maldição e expectativa de maldição permanecia comigo. Repito: nada, exceto isso, persistiu em meus pensamentos, além de alguns momentos de alivio [...]. Página 76

Eu não pensava que Cristo não me ajudava por que seus méritos eram pequenos ou por que sua graça e salvação já haviam sido empregadas na vida de outros; antes, eu pensava que sua fidelidade às suas admoestações não lhe permitia estender sua misericórdia a mim. [...] pensava que meu pecado estava fora dos limites do perdão envolvido numa promessa, e, se estava fora, eu certamente sabia que seria mais fácil os céus e a terra passarem do que eu obter vida eterna. Então, o motivo dos meus temores surgiu de uma crença firme que eu tinha na imutabilidade da santa Palavra de Deus e de ter sido mal informado a respeito da natureza de meu pecado. - Página 97

Este versículo também era agradabilíssimo à minha alma: “E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37). Oh! que conforto encontrei nas palavras “de modo nenhum”! Era como se Jesus tivesse dito. “De modo nenhum, haja o que houver, não importa o que ele tenha feito”. Entretanto, Satanás trabalhou arduamente para tirar essa promessa de mim, dizendo-me que Cristo não se referia a mim e àqueles semelhantes a mim, e sim a pecadores de grau menor, que não tinham feito o que eu fiz. Mas, eu o respondi novamente: Satanás, não há tal exceção nestas palavras; elas dizem “o que vem” (alguém, qualquer pessoa) - “O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei Fora”. - Página 108

Agora as correntes caíram de minhas pernas. Fui liberto de minhas aflições e grilhões. As tentações fugiram, de forma que, nesse tempo, aqueles apavorantes versículos pararam de me inquietar. Eu fui para casa rejubilando na graça e no amor de Deus e, quando cheguei, tentei encontrar aquele versículo: “Sua justiça está no céu”, mas não consegui. Então, meu coração começou a desanimar novamente; as únicas palavras que vieram à minha mente foram estas: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Destas palavras, percebi que a outra afirmação era verdadeira, pois vi neste versículo que, assim como o homem Cristo Jesus é distinto de nós por sua presença física, assim também ele é nossa justiça e santificação diante de Deus. - Página 113

Já experiente com as lutas contra satanás, Bunyan relata os benefícios trazidos pelas aflições e alguns sinais da graça de Deus para a sua vida. Logo após ele também relata como Deus o chamara para o ministérios da palavra e quão grande amor havia em seu coração pelas almas perdidas, sem, contudo, ter ficado isento das tentações do diabo, além de relatar também suas experiências e observações quanto ao serviço ministerial e os dons de Deus.

As vezes, quando eu estava para pregar sobre alguma passagem penetrante e desafiante da Palavra, o tentador sugeria: “O quê? Você vai pregar isso? Isso te condena; sua própria alma é culpada disso, não pregue sobre isso de jeito nenhum, ou, se o fizer, interprete e aplique o texto de maneira que lhe permita escapar, a fim de que, em vez de despertar outros, você não coloque tanta culpa sobre sua própria alma, de forma que nunca possa se recuperar”. Mas, graças ao Senhor, fui guardado de consentir com tão horrendas sugestões e, à semelhança de Sansão, tenho me inclinado com toda a minha força a condenar a transgressão e o pecado onde quer que os encontre, mesmo que, ao fazê-lo, traga, de fato, culpa sobre minha consciência. Morra eu, pensei, com os filisteus (Jz 16.30), ao invés de lidar de um modo corrupto com a bendita Palavra de Deus. “Tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?” É muito melhor trazer juízo sobre si mesmo, pregando plena e fielmente a outros, do que deter a verdade pela injustiça, a fim de proteger-se do poder condenador da Palavra. Bendito seja Deus por seu socorro também aqui! - Página 139

Por fim, Bunyan conclui sua autobiografia relatado como ele fora preso por amor do evangelho e como foram seus 12 longos anos na prisão, longe de sua família, especialmente de sua filha cega, como também as tentações enfrentadas por ele durante seu aprisionamento e as grandes consolações enviadas por Deus, e então ele encerra o livro fazendo um breve resumo das tentações ainda enfrentadas por ele e alguns outras situações que ele ainda passava.

À medida que os temores se apresentam, tenho apoio e encorajamento. De fato, quando me assusto, ainda que com nada além de minha sombra, Deus, sendo muito terno para comigo, não permite que eu seja maltratado, mas me fortalece, com um ou outro versículo, contra tudo, em tal extensão, que tenho sempre dito que poderia orar, se fosse lícito, pedindo-lhe uma aflição maior, para receber maior consolação (Ec 7-14; 2 Co 1.5). - Página 148

O livro em questão ainda trás um epílogo com informações extraídas do livro Bunyan's Life and Times (A Vida e a Época de Bunyan), escrito pelo Rev. Robert Philip, onde o mesmo conta alguns fatos que se sucederam na vida de Bunyan após a publicação da sua autobiografia.

Graça Abundante ao Principal dos Pecadores é um livro para aqueles que pensam não haver mais esperança para suas pobres almas após terem cometido algum pecado que julgam ser imperdoável. É o relato de um grande exemplo da imensa graça de Deus para com o homem miserável e pecador.

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