O lamento de um Mísero

sábado, 7 de julho de 2018


Poderoso Leão, arrependo-me.

Minha ganância despojou um tesouro maldito e maldito me fiz quando adornei o meu braço ainda humano com um bracelete de ouro que ali encontrei, liberando um sortilégio que materializou a maldade de meu corrompido coração nesta tenebrosa prisão que é ser dragão.

Poderoso Leão, liberta-me desta minha intrínseca fera. Ajuda-me com essa escabrosa pele de dragão que não consigo por mim mesmo despir. Esfrego-me no chão para arranca-la, mas ao olhar meu reflexo nas tuas águas profundas e claras, para as quais trouxeste-me nesta noite clara e sem luar, deparo-me novamente com a minha aparência de fera.

Poderoso Leão, rasga-me com tuas garras de amor e compaixão e, como uma ave depenada, macia e delicada, agarra-me em tua boca e lança-me nas profusas águas cristalinas de teu insólito jardim, ainda que arda a minha pele rosada, despida da rugosidade de dragão, para que eu me torne de vez quem eu não era antes de ser fera, esta prisão.

Poderoso Leão, quando me tornares à verdadeira humanidade, veste-me com uma roupa limpa e nova, desprovida de maldição e maldade para que eu possa entrar, um dia, em teu país, no Além-Mar.

Poderoso Leão, arrependo-me.

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Escrever é, antes de tudo, o abstracionismo dos pensamentos, das alegrias, dos lamentos e todos os sentimentos que transpassam a alma humana. É o transbordar filosófico e poético dos mares do pensamento.

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