A ponte

domingo, 25 de março de 2018


Em minha comprida jornada por esta estreita ponte de diáfanas lâminas de vidro delgado, quase invisível, sustentada sobre os ombros daquele que é mais poderoso do que Atlas no zênite desse alcantilado abismo, sigo das terras agrestes do ocidente em direção às utópicas montanhas do oriente alvejadas por meu coração, nutrido pelas quimeras de minha alma, ratificadas no livro do Antigo.

Nesta peregrinação, quando sopram os gélidos e impetuosos vendavais do Sudeste que tentam dissuadir-me de prosseguir a jornada, em minha débil ignorância, cuido que a ponte sucumbirá à pomposidade das ventanias, arrojando-me na garganta desse tenebroso precipício.

Ilusão.

A translúcida ponte de vidro cristalino, que se tornou-me visível à medida que dela me aproximei, agita-se, porém não cede. Contudo, o medo do iminente despenho mortal faz-me, antes, derruir a altivez de minha estatura, afim de permanecer na segurança destas alturas.

Por vezes, quando olvido-me da veracidade da existência das montanhas do oriente, eu nutro uma mortal curiosidade de divisar o fundo do abismo sobre o qual peregrino, e nessa mortífera tentativa os meus pés quase resvalam, e o medo assola abruptamente a minha alma curiosa, que fremi desolada dentro de mim, cuidando que esta ponte não sustentará o peso do meu fardo.

Mas o que farei?

Resta-me apenas ceder à pusilanimidade do meu débil coração e tornar às terras agrestes, contrariando a gritante certeza que brada das minhas quimeras a respeito das montanhas do oriente, e a firmeza desta ponte atestada no livro do Antigo; ou prosseguir esta jornada contristado, cônscio da veracidade daquele antigo oráculo, o qual também adverte-me de que em todos os lugares a morte espreita, ávida por vida, sua próxima vítima, exceto no final desta carreira.

Por mais laborioso que seja manter-me norteado neste estreito caminho de mortais distrações, peregrinarei compungido até que eu haja alcançado o destino que, desde a aurora de minha consciência, tenho alvejado.

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Escrever é, antes de tudo, o abstracionismo dos pensamentos, das alegrias, dos lamentos e todos os sentimentos que transpassam a alma humana. É o transbordar filosófico e poético dos mares do pensamento.

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