A necrópole das minhas flores

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018


O meu jardim, outrora verdejante, jazeu em cinzas mortais, queimado pelo ardor do fogo alimentado pela ganância de homens cruéis. Foram-se minhas margaridas... meus jasmins... até minhas alfazemas! Tudo foi ardido pelo fogo! — Eu podia sentir aquele incenso mortal que exalava das cinzas.

A morte usurpou a vida e a fealdade suplantou a beleza. Tão laborioso me foi semear cada semente e rega-las com o suor do meu trabalho! E agora só me restara molhar a terra enegrecida com as lágrimas que rolavam por meu enrubescido rosto.

Até o sol foi cortinado por gélidas nuvens enegrecidas, coisa que eu não queria. Já bastava o meu pranto sobre o encinzeirado outrora florido, irrigando a necrópole das minhas flores. Porém, para minha surpresa, aquelas nuvens traziam vida.

O pintalgado de flores começou a ressurgir: o cândido das gardênias, o violáceo das lavandas, o carminado dos cravos. Com o perfume melado do álisso que brotou à minha direita, nasceu de volta a minha alegria. Era o meu jardim brotando das cinzas enquanto o pranto das nuvens tocava o chão.

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Escrever é, antes de tudo, o abstracionismo dos pensamentos, das alegrias, dos lamentos e todos os sentimentos que transpassam a alma humana. É o transbordar filosófico e poético dos mares do pensamento.

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