Um dia de primavera

terça-feira, 23 de janeiro de 2018


Quando despontou no horizonte o sol da primavera e a solidão da fria noite de inverno desvaneceu-se na aurora daquele novo dia, o resplandecente fulgor da estrela da manhã incidiu sobre o meu lívido rosto, encanecido pelos gélidos ventos do inverno, trazendo-me de volta o verdadeiro vigor da minha tenra idade.

Então, apressadamente, pus-me a subir uma colina, diante da qual o alvorecer promovia, ainda mais desconcertante, o seu belo espetáculo, enchendo-me os olhos e cativando-me o coração, o qual vibrava espaventado com a cena que ocorria ao som do concerto primaveril, o qual era suscitado pelo arrulhar das aves e o uivo dos ventos entre os abetos.

Em contemplante posição eu permaneci por todo o dia, alegrando-me ainda mais a cada milímetro ascendido pelo sol, até que, passado o apogeu do meio-dia, iniciou-se o seu declínio, o qual, em vão, tentei impedir, e o meu coração, outrora animoso, passou a entristecer-se.

Quando o sol se pôs no horizonte e eu achei-me na penumbra do fim do dia, correu entre os abetos uma suave brisa, típica das noites primaveris, que tangeu o meu rosto, agora amorenado, e soprou para o norte as densas e enegrecidas nuvens, desnudando, diante de meus olhos, o firmamento.

Ao divisar o céu despido, quando o astro-rei já havia cedido o seu lugar à ilustre governanta da noite, notei, pela primeira vez, estendidas no firmamento, as milhares de estrelas que fulgurantemente cintilavam e dançavam diante de meus olhos, proporcionando-me um espetáculo, quiçá, maior que o diurno.

Eu pensara que minha vida se desvaneceria solitária no congelante vento da noite que chegara, porém percebi que eu estava enganado, pois uma vez chegada a primavera, ainda que o sol decline, as noites nunca mais serão gélidas e solitárias, pois terei, se eu atentar bem, a companhia sideral da lua e das estrelas, até que rompa o alvor de um novo dia.

Revisão: Jefferson Araújo

Você Pode Gostar Também

0 comentários

Escrever é, antes de tudo, o abstracionismo dos pensamentos, das alegrias, dos lamentos e todos os sentimentos que transpassam a alma humana. É o transbordar filosófico e poético dos mares do pensamento.

Debruce os sentimentos de sua alma sobre este espaço, caro leitor.

Todos os Direitos Reservados

Seguidores